O “intelectual” das páginas amarelas da Revista Veja


Fiquei sem postar por um período longo devido aos problemas técnicos – ainda não solucionados – com o os computadores da minha casa.
Sobra um computador só para quatro pessoas, sendo que dessas, duas são adolescentes. Já dá para imaginar como tem sido as três últimas semanas.
Não gosto de escrever do trabalho, por motivos óbvios, mas também porque não consigo me concentrar.
De qualquer forma aqui vai.
Quem leu a entrevista do Sr. DENIS LERRER ROSENFIELD na Revista Veja de 11 de maio? Você pode ler aqui e pensar a respeito.
Abaixo reproduzo dois textos publicados no site da ABEAD. Carlos Salgado e Ana Cecília criticam os argumentos do Sr. Rosenfield.
Pelo título do post é possível ter uma ideia da minha opinião
Qual é a sua?
A Liberdade de Escolha e o Outro
Data de Publicação: 13/05/2011
A última edição da Revista Veja trouxe uma entrevista com o Professor Universitário na área da Filosofia e Pensador de nossa Sociedade, Doutor, que carrega consigo uma peculiar responsabilidade na divulgação de suas ideias. Entre criticas a Anvisa, e as medidas restritivas do Governo, o professor defendeu a publicidade de produtos nocivos, como o tabaco, em prol de uma ideológica liberdade de arbítrio e expressão.
Acreditando que a Liberdade seja um ideal sempre buscado e motivador de desenvolvimento civilizatório, não podemos esquecer que em quase, se não toda, escolha pessoal esteja incluído o Outro. A escolha de experimentar substâncias como tabaco, álcool e anfetamínicos situa-se dentre as de grande envolvimento com o Outro. Quando um indivíduo escolhe usa-las, muito provavelmente não leva em consideração que possa ser um dos sorteados pelo infortúnio para ser constitucionalmente predisposto ao abuso e dependência. Imediatamente o Outro é atingido pela escolha livre de tal indivíduo. Ele poderá entrar no rol dos que demandam ajuda para sair do tabagismo, alcoolismo ou dependência de psicoestimulantes. O Outro terá de fazer face ao desafio de ajudá-lo. O rol de Outros envolvidos começa em suas relações imediatas familiares, acadêmicas, laborais e do sistema de Saúde do Estado ou complementar privado.
Esse Outro já é hoje também o próprio Professor Rosenfield. Ele deve ter em mente uma pequena lista de colegas que eventualmente necessitaram de sua colaboração para cobrir agenda de aulas na Universidade. Alguns deles afastavam-se para tratar de problemas de saúde gerados a partir de escolhas livres suas no tocante ao uso de tabaco e álcool, por exemplo. Estavam afastados do trabalho na Universidade sobrecarregando o Sistema de Saúde Público representado, por exemplo, pelo Grande Hospital de sua Universidade. Esses desafortunados não estariam em tal condição não fora sua escolha livre inicial de uso de tabaco e álcool já na adolescência, sob o olhar condescendente de seus pais. Mais tarde tal hábito se ampliou, estimulado pelos seus pares, durante a graduação e pós graduação, sistematizando-se na forma de dependência química.
Não apenas no Departamento do Professor Denis Lerrer Rosenfield, mas em todos os demais de nossa Amada Universidade Federal do Rio Grande do Sul há representantes dedicados ao ensino e ao aprendizado que pagam conosco, demais Outros, o preço de escolhas mal fundamentadas em discursos distorcidos familiares e acadêmicos sobre o que seria a liberdade de escolha, como nessa entrevista a Veja defende o Prestigiado Professor.
Carlos Salgado

Sobre a entrevista publicada nas páginas amarelas “O estado não pode tudo”
Carta de Ana Cecília Marques enviada a Redação da Revista Veja no último dia 8 de maio de 2011
Como mãe, médica e especialista na área de Neurociência, que estuda o consumo e o impacto de substâncias psicotrópicas, como a bebida alcoólica, o fumo, e os inibidores de apetite, entre outras drogas, venho assinalar minha indignação com o posicionamento do Doutor Denis Lerrer Rosenfield, que trata o tema das drogas como se fosse um produto qualquer. Da mesma forma, coloca a ética individual e os direitos humanos, acima da ética coletiva e dos princípios fundamentais de qualidade de vida de uma sociedade no século XXI.
Sabe-se desde a metade do século passado, sobre o impacto do aprendizado social, uma teoria sociológica, assim como sobre o impacto das drogas psicotrópicas sobre a capacidade de decisão do indivíduo e a repercussão no seu entorno, uma descoberta da Neurociência. De um lado, a modelagem do comportamento e de outro, o poder das substâncias psicotrópicas de abolir a crítica do usuário sobre a realidade e de desenvolver dependência. Portanto, não é possível mais aceitar que as Ciências analisem separadamente a vida e a alma do Homem.
O segundo ponto importante e que merece registro, é o discurso sobre a democracia, que do meu ponto de vista, é formada pelo equilíbrio entre os direitos individuais e coletivos, e a participação e regulação do Estado, para que tal homeostase seja atingida. Usar drogas psicotrópicas, como a nicotina do tabaco e o etanol da bebida alcoólica muda a percepção dos limites que o usuário deve manter em relação ao outro e ao ambiente. O impacto de tais drogas não se restringe ao indivíduo, atinge toda a sociedade, em diferentes aspectos. Democracia é o exercício do respeito individual, coletivo e o Estado cuidando de todos, e da mesma forma, de uma maioria que tem o direito de não fumar, não beber e nem utilizar uma terapêutica qua ainda carece de comprovação, como é o caso dos inibidores de apetite, no Brasil.
Hoje, as “Mães brasileiras e suas famílias”, poderiam ganhar um presente: readquirir o livre arbítrio e decidir que as propagandas sobre drogas lícitas para adultos não entrassem mais em suas casas, não influenciassem mais o comportamento de seus filhos, que por sua vez experimentariam um mundo mais democrático, onde seria natural prescindir!
Ana Cecilia Petta Roselli Marques
Médica Psiquiatra

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