Consumo de vape cresce no Brasil em meio à falta de regras - Folha de São Paulo

Europa regulou uso do cigarro eletrônico para combater tabagismo, mas médicos têm dúvidas se estratégia é benéfica para a saúde.



Por Isabella Menon

LONDRES

Proibido no Brasil desde 2009, os cigarros eletrônicos atraem cada vez mais usuários no país. Enquanto isso, nos últimos anos a Europa tem criado normas para regular o consumo, em uma tentativa de diminuir o número de fumantes no continente.

A ideia é que as pessoas substituam o tabaco pelo dispositivo, também chamado de vape. Para especialistas, pAtualmente fazendo mestrado em Londres, a brasileira Giulia (ela pediu para não ter seu sobrenome revelado), 22, ilustra bem essa situação. Ex-fumante de cigarros convencionais, ela aderiu ao vape em sua estadia em solo britânico.

Agora, o dispositivo rosa com sabores como morango e kiwi costuma ser usado como uma espécie de recompensa entre os estudos.
Para ela, o aparelho é mais prático do que o cigarro convencional, já que não tem cheiro e gera pouca fumaça. Mas, por isso, acaba usando ele mais do que quando fumava tabaco —por semana, consome três dispositivos, cada um com capacidade de 600 tragadas.orém, ainda não está claro se essa mudança é de fato benéfica para a saúde e se ela deve ser adotada como política pública.

Esse aumento do consumo é um dos riscos que a liberação do uso do vape cria, segundo entidades médicas. Mesmo assim, o Reino Unido decidiu em 2016 regular o produto e usá-lo como uma ferramenta para reduzir danos relacionados ao tabagismo.

É com essa mesma proposta que Alexandro Lucian, 42, luta pela regulamentação do vape no Brasil. Presidente da Direta (Diretório de Informações para a Redução de Danos do Tabagismo), ele fumou tabaco por 15 anos e chegou a consumir três maços por dia.

Em 2015, descobriu o vape e abandonou o cigarro. "Parece que quem se opõe à redução de danos no tabagismo acha que devemos sofrer para parar de fumar. Se posso ter prazer com o cigarro eletrônico sem prejudicar minha saúde, é o que quero."

Para o pneumologista Fred Fernandes, que atua no InCor (Instituto do Coração), essa ideia de que o cigarro eletrônico é mais saudável é falsa. "O vape cria novos consumidores", afirma. "Faz mal às vias respiratórias e ao coração. É trocar uma substância tóxica por outra sem tratar a dependência."

Mesmo com regras opostas, Brasil e Reino Unido enfrentam desafios semelhantes nessa área: encontrar formas de combater o mercado ilegal e, ao mesmo tempo, controlar o aumento de consumo entre os jovens.


Em Londres, o dispositivo eletrônico está disponível em lojas de souvenirs, casas de câmbio e até em pontos registrados no NHS (equivalente ao SUS). Nestes locais, funcionários treinados auxiliam fumantes a encontrar o melhor dispositivo para ajudar na transição do tabaco ao vape.

Já os cigarros são vendidos em embalagens pretas e mantidos em gavetas nas tabacarias.

O governo britânico tem como meta reduzir a taxa de fumantes no país para 5% até 2030. Os dados mais recentes, de 2021, apontam que a taxa estava em 13%, menor percentual em dez anos. Por outro lado, o consumo de cigarros eletrônicos disparou de 1,7% em 2012 para 8,3% no ano passado.


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