As grandes navegações.


Reproduzo abaixo uma matéria que saiu na Revista Imagine da Telefônica/TVA.
Tem uma contribuição minha nessa matéria.

ERA UMA VEZ, num tempo muito muito distante, o século 20. Os seres humanos entraram na era da comunicação de massa. Primeiro veio para dentro das casas o rádio, um aparelho de onde saíam vozes de outros homens, que, mesmo de lugares distantes, pareciam estar ali do lado. Era a geração dos ouvintes.
Depois a televisão chegou. Neste aparelho também era possível ver, além de apenas ouvir. Era a geração dos espectadores. E então veio outro salto da tecnologia: cientistas trabalhavam na invenção de máquinas ainda mais inteligentes, capazes de obedecer a ordens chamadas programações. Deram a elas o nome de computadores. Essas máquinas tornaram-se nossas aliadas constantes, ajudando na realização de tarefas ou nos momentos de diversão. Aí veio a internet e o resto da história todo mundo sabe: a grande rede juntou o som com a imagem e adicionou um ingrediente mais apetitoso à receita, a interatividade. É a geração dos interativos.
Uma historinha assim pode ser contada no futuro, quando os pais explicarem para os filhos mais curiosos como era a vida no tempo do vovô. Se alguns anos atrás o computador dentro de casa era uma grande novidade para os adultos de hoje, os filhos desta geração – que nasceu espectadora – já nascem "plugados". Um estudo realizado pelo Ibope/NetRatings em 2008 constatou que há 2,6 milhões de crianças de até 11 anos de idade acessando a web de casa. A maioria delas se concentra na faixa etária entre seis e 11 anos. Isso significa que 10,6% do total de internautas residenciais do país são crianças. Outra pesquisa realizada ano passado aqui no Brasil pelo canal Cartoon Network revelou que o eletrônico preferido pelas crianças é o PC, e cerca de 90% dos entrevistados disse que sua atividade preferida na web é jogar.

CONECTADOS DESDE O BERÇO
Hoje em dia, desktops, laptops e até telefones estão ligados à rede. Já se foi o tempo em que passar horas no computador era coisa de nerd, o estereótipo da pessoa extremamente ligada em tecnologia e alheia ao resto do mundo. Cada vez mais gente quer ficar conectada, checando e-mails, participando de comunidades, escrevendo para um blog, falando com os amigos e lendo notícias para estar informada em tempo real.
Essa primeira "geração de interativos", nascidos e criados sob o signo da mídia digital, age com muita naturalidade em relação a tamanha quantidade de informação disponível. É o que diz Rui Kertzer, 12 anos, aluno do sétimo ano do ensino fundamental: "Passo mais ou menos uma hora por dia no computador e uso a internet pra um monte de coisas, para fazer pesquisas da escola, mas principalmente para jogar online". Seus acessos prediletos são os vídeos de comédia no YouTube ou o site de quadrinhos da Mafalda, além de novos games que ele costuma buscar. Mas avisa: "Os colegas que só falam em computador o dia inteiro ficam chatos!". É o que alerta Regina Simões, coordenadora do Núcleo de Educação e Tecnologia da Informação do Colégio Santa Maria, em São Paulo. "Na minha opinião, a internet é um caminho já traçado para o público infantil, que se utilizará dele cada vez mais. Cabe aos responsáveis perceber os limites e tomar as providências necessárias para que o uso seja racional, criativo e responsável", observa.
MEU QUERIDO MICRO
Ok, então vamos pensar em como fazer um bom uso do eletrônico mais querido da casa. Se seu objeti- vo é manter a interação com os seres reais, e não chegar ao ponto de conversar com sua família, da sala para o quarto, via instant messenger, então prepare-se: são os pais e os educadores os responsáveis por mostrar os limites e orientar sobre o uso dessa ferramenta. César Pazinatto, coordenador pedagógico do ensino fundamental do colégio Santo Américo, acha que "os pais devem conhecer a nova ferramenta para poder orientar seus filhos. A participação deles, interagindo com a criança e não somente vigiando, é determinante para o uso adequado do computador".
Pazinatto reforça a diversidade de utilidades da internet: “O colégio disponibiliza conexão Wi-Fi e já realizou até videoconferências entre alunos no Brasil e no México, trocando experiências sobre suas culturas. Porém procuramos estimular nos alunos uma visão crítica do conteúdo que leem na rede e não apenas que eles absorvam como verdade absoluta". Segundo os pedagogos, bom mesmo é diversificar as atividades. Como diz o pequeno Rui Kertzer. "O computador é só uma parte do meu dia, também faço muitas outras coisas".
Bem, se um mundo de informação está disponível 24 horas por dia para os conectados, então parte desse conteúdo deve ser especialmente voltado para a garotada, certo? É bem por aí. No Brasil, alguns provedores têm material exclusivo para os pequenos, com enquetes, desenhos, jogos, indicação de livros, discos e novidades. Além disso, os sites das emissoras com vasta programação dedicada às crianças, como TV Cultura e Discovery Kids, também disponibilizam vídeos, atividades e informações sobre seus personagens e programas.
Os gigantes do entretenimento não ficam atrás. "A internet não é só mais um canal de divulgação para produtos off-line, são desenvolvidos conteúdos específicos para o público infantil na web", diz Ezequiel Abramzon, vice-presidente de mídia digital para a América Latina da The Walt Disney Company. A empresa lançou em novembro de 2008 a versão em português do mundo virtual Club Penguin, sucesso em inglês, que disponibiliza diversos jogos online e permite que crianças conversem entre elas no mundo todo. O detalhe é que o Brasil foi o primeiro país de língua não inglesa a ter uma versão do site, que "tem muitos fãs bem dedicados no país, pedindo há bastante tempo uma versão em português", explica Lane Merrinfeld, um dos fundadores.

O SEGREDO É SABER USAR
Criança gosta é de brincar. Geração após geração, essa máxima se mantém firme. Brincar com o mundo ao seu redor, cada vez mais amplo e ágil. Por isso, é interessante que elas possam contar com o computador, a internet e o que mais lhes possa oferecer atividades divertidas, que estimulem seu desenvolvimento e agucem a curiosidade.
O cartunista Ziraldo, "pai" do Menino Maluquinho e de muitas outras histórias infantis, em entrevista a um programa de TV avisou: "Internet é fundamental porque toda a informação está lá. Agora, se você não tem curiosidade, de que adianta aquele presente dos deuses?".

Fonte: Revista Imagine – nº 1 – Junho 2009

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