33% dos alunos da rede privada já se embriagaram


Estive no lançamento do relatório prévio dessa pesquisa ontem, na UNIFESP.
Discutimos a necessidade de uma divulgação responsável por parte da imprensa dos dados apresentados. 

A idéia é que, com a divulgação, a resistência das escolas ao trabalho preventivo diminua.
Hoje pela manhã, me deparei com a manchete de primeira página da “Folha de São Paulo” tratando do assunto.
Reproduzo, na íntegra, a reportagem.
Em tempo.
Como assinante do jornal, fui buscar as informações na “Folha Online”. Em uma reportagem sobre álcool, o pop-up de propaganda, aberto bem em cima da matéria, era de um marca de whisky que quer manter seus consumidores andando.
Quem programa isso??
Me lembrei de um texto publicado pelo um blogueiro Rodolfo Araújo.
Em seu último texto, no blog “Não posso evitar”, ele discutiu entre outras coisas, as propagandas, involuntárias ou não, dentro do contexto das notícias.
O texto do Rodolfo Araújo, você lê aqui.

33% dos alunos da rede privada já se embriagaram
Eles relatam que bebedeira ocorreu pelo menos um mês antes da pesquisa
Entre estudantes do ensino fundamental, os que ficaram bêbados ao menos uma vez na vida somam 14%
TARSO ARAUJO
DE SÃO PAULO
Dados inéditos de uma pesquisa sobre o uso de drogas entre os alunos de escolas particulares da cidade de São Paulo revelam que um em cada três estudantes do ensino médio se embriagou pelo menos uma vez no mês anterior ao levantamento.
Os dados mostram ainda que a bebedeira -consumo de cinco ou mais doses na mesma ocasião- é uma prática comum para muitos dos que têm idade entre 15 e 18 anos: 7% dos meninos e 5% das meninas fazem isso de três a cinco vezes por mês.
A pesquisa, do Cebrid (Centro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) da Unifesp, ouviu, em 2008, 5.226 alunos do ensino fundamental e médio de 37 escolas -os dados só foram concluídos agora.
Entre os estudantes do ensino fundamental (7ª e 8ª séries), o total dos que se embriagaram ao menos uma vez no último mês é menor (14,2%), mas surpreende por conta da idade: geralmente entre 13 e 15 anos
FATOR DE RISCO
Segundo a pesquisa, o fator de risco mais associado ao consumo excessivo de álcool é sair à noite.
O grupo de alunos que saem ao menos uma vez por semana tinha quase dez vezes mais chances de ter tomado uma bebedeira no mês anterior que os que não saem. Ricardo (nome fictício), 16, costuma sair à noite três vezes por semana. Sábado, na companhia de dois amigos, estava na rua Augusta com uma garrafa de vinho.
"Não dou mais "PT", mas fico bêbado, lógico. Com seis latinhas já estou "alto'", afirma o rapaz, explicando que "PT" significa perda total: "passar mal, vomitar, ir para casa mal". Experiência que os três dizem ter vivenciado. "Agora só bebo socialmente. Antes, bebia meia garrafa de vodca sozinho", diz João, 15, amigo de Ricardo.
Apesar de a venda de álcool ser proibida para menores, a turma comprou a garrafa num mercado na redondeza, sem mostrar identidade.

DIÁLOGO
"A intoxicação por álcool tem efeito estimulante, no primeiro momento. Isso favorece a agressividade e comportamentos impulsivos e diminui a autocrítica. É o que deixa a pessoa mais em risco", diz Ana Regina Noto, professora da Unifesp e coordenadora da pesquisa.
"Mas não é prendendo o filho em casa que um pai vai evitar que ele beba demais", diz o psiquiatra da Unifesp Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes).
 "O ideal é investir em fatores de proteção, como conversar. Perguntar o quanto o filho bebe, como bebe, por que bebe... E aí entrar numa estratégia de redução de danos mesmo", diz Xavier.

ANÁLISE
Consumo precoce começa com exposição à publicidade
CARLOS SALGADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A relação entre jovens e consumo de álcool é alarmante. Garotos e garotas entre 14 e 17 anos são responsáveis por 6% de todo o consumo anual de álcool do país.
O número prova a fragilidade do país em fazer cumprir a lei (que proíbe a venda para menores de 18 anos) e em conter os perigos da experimentação, que acontece cada vez mais cedo.
O porre pode, para muitos, parecer só uma brincadeira da garotada. Mas evidencia o sintoma de uma conduta social que inconscientemente aprova o consumo de álcool.
Nos lares brasileiros, os jovens crescem assistindo a familiares e amigos consumirem bebidas alcoólicas nos mais variados eventos. Ou, ainda, após as tradicionais partidas de futebol, numa combinação contraditória entre álcool e esporte.
Para o jovem, beber parece estar associado com status, suposto amadurecimento e possibilidade de mais relações pessoais e afetivas. Por essas razões, é preciso apostar fortemente na prevenção desde a infância. A proposta não surtirá efeito se os menores continuarem expostos à publicidade de bebidas, sempre associadas a cenários paradisíacos, formas perfeitas e diversão.
Estudo que levantou 420 horas de programação televisiva identificou que a maioria das propagandas de bebidas ocorre em programas esportivos, com ao menos 10% de audiência de jovens.
Sabemos também que o álcool é apenas a porta de entrada para outras drogas. É a partir dele que o jovem fica mais exposto à experimentação de outras drogas.
Limitar a publicidade, portanto, é o meio de dar uma adequada concepção em torno do consumo do álcool.


CARLOS SALGADO é psiquiatra e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas)
Controle de venda de bebidas deve ser melhorado
ANA REGINA NOTO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A adolescência é uma importante fase de conquista de autonomia e independência da família, mas também pode envolver algumas vulnerabilidades.
Além da limitada experiência de vida, ainda estão em maturação bases neurológicas relacionadas no processo de tomada de decisões.
Esse contexto aumenta a chance de alguns comportamentos arriscados, como o uso indevido de drogas, as quais vão muito além dos conhecidos estereótipos das "drogas ilegais".
As bebidas alcoólicas são, sem dúvida, as drogas que merecem maior atenção dos pais e das políticas públicas.
Quando envolve episódios de embriaguez, a impulsividade e a redução da crítica podem expor o adolescente a situações de vulnerabilidade relacionadas à sexualidade, a brigas ou a acidentes.
Vários aspectos contribuem para a baixa percepção de risco relacionado ao álcool, como a inserção cultural, a publicidade de cervejas e a facilidade de compra.
Nesse sentido, torna-se essencial abrir debate sobre o tema. Para as famílias, é importante ponderar que os modelos familiares e a negociação de limites de saídas noturnas são alguns dos aspectos mais importantes.
Em relação às políticas públicas, são fundamentais as ações de controle de venda para menores de 18 anos e especialmente, a proibição da publicidade.
Aprendemos muito com as políticas para o tabaco. Os primeiros resultados de redução de consumo indicam que, com a contribuição de diferentes setores da sociedade, foi possível avançar.
Caminho semelhante merece ser ponderado em relação ao álcool.
ANA REGINA NOTO é professora da Unifesp e coordenadora da pesquisa sobre o consumo de álcool na adolescência.

Jovens dizem que comprar bebida é fácil
Menos de 2% dos alunos que responderam à pesquisa dizem já não ter conseguido comprar bebidas alcoólicas
Para responsável pela coordenadoria de drogas da prefeitura, número de agentes de fiscalização é "ridículo"
Daniel Marenco/Folhapress
Adolescente bebe vinho na rua Augusta
DE SÃO PAULO
Menos de 2% dos jovens que responderam à pesquisa da Unifesp dizem ter tentado comprar bebidas alcoólicas sem sucesso. Apesar de a venda de álcool para menores de idade ser proibida pelo ECA (Estatuo da Criança e do Adolescente)- a pena é de até dois anos de prisão- e por uma lei municipal de 2007, a maioria dos jovens encontrados pela reportagem sábado à noite disse não ter dificuldade para comprar bebidas.
Desde que a lei foi regulamentada, em 2008, em São Paulo, a prefeitura realizou 112 blitze para fiscalizar a venda de álcool para menores de idade, visitando 1.501 estabelecimentos na cidade. A norma prevê multa de R$ 4.500 e cassa o alvará de funcionamento na segunda reincidência.
A lei obriga ainda os bares a exibir o aviso: "O álcool causa dependência e, em excesso, provoca males à saúde". O estabelecimento que não tiver o cartaz é multado em R$ 1.500.
O próprio responsável pela Coordenadoria de Atenção às Drogas da prefeitura, Luiz Alberto de Oliveira, reconhece que não é suficiente.
"É um número ridículo. Tem cerca de 700 agentes vistores na cidade e 70 mil estabelecimentos cadastrados no município para venda de bebida alcoólica. Fora os irregulares e ambulantes. Não existe poder público capaz de fiscalizar essa massa", avalia Oliveira.
Para ele, a solução para a questão é o apoio da população. "É preciso que a sociedade também colabore, fazendo denúncias. Reuni mais de 200 conselheiros tutelares e os provoquei a fazer uma denúncia, cada um. Ninguém nunca me fez uma denúncia", diz Oliveira.
Cesar Pazinatto
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