Abaixo reproduzo a entrevista que dei sobre como a escola
discute a ditadura da beleza. A matéria saiu no “Vila
Mulher” vinculado ao Portal Terra.
Algumas escolas britânicas fizeram uma campanha
recentemente promovendo uma fotografia da cantora Britney Spears. A imagem trazia os "defeitos", se é que podemos chamá-los assim, da celulite, do quadril largo e das pernas
e braços cheinhos, sem nenhum retoque. As instituições alegam que
desta forma o aluno aumenta sua autoestima e não dá importância à beleza imposta pela mídia através das
celebridades.
Sabemos que o ambiente escolar, muito bem retratado no filme "Meninas Malvadas", é cheio de trucagens e
panelinhas.Se o aluno não faz parte do grupo fica isolado da
"galera". Porém, fazer parte do grupo implica em mudanças na
aparência, mudanças do que a criança realmente é. Dessa forma o desejo de ser
outra pessoa, de ter o corpo perfeito e do tamanho e cor x e y é constante.
A famosa ditadura da beleza nas escolas não é de hoje, mas só de um
tempo pra cá que os educadores começaram a se preocupar com este tema nas salas
de aula. É o caso do coordenador pedagógico do Colégio Santo Américo, Cesar
Pazinatto, que dirige o comportamento das crianças entre 10 e 16 anos. Para
ele, a campanha realizada na Inglaterra não trará muitos resultados efetivos:
"Idéias de belezas não atingíveis nessa faixa etária é resultado de
trabalho de longo prazo, muito mais consistente. Não é só a foto sem produção
de uma cantora ou atriz que vai ensinar valores e respeito próprio".
De acordo com o coordenador, existem outras formas
de debater esta situação na escola: "O que fazemos, e muito, é pegar fotos
retocadas e ensinar ao jovem a estratégia da propaganda, de um produto de beleza,
de uma novela. O aluno que aprende a ler a mídia consegue ter mais efetividade
na forma de evitar esses abusos visuais e tem tranquilidade para aumentar a sua
autoestima, pois sabe que é tudo falso". Dentro deste
trabalho a escola também visa o uso obrigatório do uniforme de maneira a evitar
o desfile de roupas e promover a igualdade entre os alunos.
Porém, a situação é muito maior do que supomos. Pazinatto conta que este ano teve um
problema singular dentro das salas de aula. As meninas com cabelo encaracolado
começaram a se ver forçadas, pela mídia massiva e pelas amigas, a fazerem a tal
escova progressiva, que alisa seus cabelos, para fazer parte do grupo. E ainda
assim, mesmo as que utilizaram a química, continuam fora do grupo fechado, pois seu cabelo
não era liso natural.
Ou seja, esse é o trabalho; de tirar os olhos das meninas da revista, do
jornal, da novela e da internet e trazer para o espelho, fazendo-as enxergar
algo que naturalmente as agradem, é algo extremamente difícil. Há anos que
esses padrões são exigidos e alimentados pela sociedade. Então, essa desestruturação vai levar um
tempinho.
Enquanto
isso, além da ajuda da escola, Cesar
nos alerta outro importante fator: a família. "Infelizmente as famílias
não compartilham sempre deste ideal. Pelo contrário, elas incentivam o
consumismo e os ideais de beleza, o que atrapalha nosso trabalho, pois se cria
um conflito", revela. O coordenador pedagógico explica que seria de
extrema importância que os pais não supervalorizassem estes conceitos e
abrissem a porta para o diálogo com seus filhos, buscando dar suporte às suas reais
necessidades. A escola promove palestras aos pais com especialistas em
consumismo do Instituto Alana.
Querendo ou não os adolescentes são mais
influenciáveis pelos meios externos. Certamente quando amadurecerem vão
analisar as verdades da vida e deixar de lado certos fatores, como a busca pela
perfeição. Porém, se pudermos tratar deste problema logo cedo, estaremos
colaborando para a formação moral do indivíduo e evitando sérios problemas como
o bullying, por exemplo.
Por
Alessandra Vespa (MBPress)
Veja um trecho de “Meninas Malvadas”
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