Duas notícias: Álcool e Consumo

As notícias abaixo foram publicadas na Folha de São Paulo de hoje, 11/10/2011


Policiais atuarão principalmente em bares e enviarão informações em tempo real a fiscais do governo, por meio de tablets 

Lei com punições ao comércio será sancionada no dia 19; multas começam a ser aplicadas em novembro 

TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

A Polícia Militar ajudará a fiscalizar a venda e o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade nos estabelecimentos comerciais de São Paulo.
A lei que trará punições a donos de bares será sancionada no próximo dia 19 pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Durante um mês, haverá campanhas de conscientização nos estabelecimentos; as multas passam a ser aplicadas em 19 de novembro.
Segundo o coronel Álvaro Camilo, comandante-geral da Polícia Militar, a atuação da polícia será mais forte nos bares. Os policiais checarão nesses estabelecimentos se há menores consumindo álcool.
Em caso de dúvida (quando um jovem apresentar RG que parecer falso, por exemplo), o policial verificará a idade dele pelos tablets instalados nos carros da polícia.
Caso seja confirmado que há um menor consumindo álcool no local, os policiais também registrarão um boletim de ocorrência e enviarão a informação em tempo real, por meio do tablet, para a fiscalização do governo.

FOTOS
Segundo o comandante, a própria fiscalização deverá ter uma interface para receber as informações da PM. O tablet também permitirá que se tire fotos do fato, para compor o processo contra o dono do estabelecimento. Com base nas informações, os fiscais do governo emitirão a multa, que vai de R$ 1.745 a R$ 87.250. O comércio poderá ser fechado por 30 dias e até perder a licença.
"A polícia também tem um interesse muito grande [na nova lei]. O álcool é uma das principais causas de lesões corporais e de homicídio. Também é responsável por muitas mortes em acidentes de trânsito", afirma Camilo.
"Com o apoio da polícia o número de fiscais aumenta", diz Luiz Alberto Chaves de Oliveira, coordenador estadual de política sobre drogas.
O Estado terá 600 fiscais atuando -do Procon-SP e da vigilância sanitária, também responsáveis por fiscalizar a lei antifumo. Pela nova lei, o dono do estabelecimento será punido não só pela venda de bebidas alcoólicas para menores de idade, mas também quando o adolescente estiver consumindo a bebida no local.
A punição acontecerá mesmo quando o jovem estiver acompanhado dos pais. Isso facilita a fiscalização. Hoje, para que o dono do bar seja punido, é preciso que o fiscal flagre o momento da venda. Como o período de consumo é maior, o flagrante acaba sendo mais fácil.



ADOLESCENTES E ÁLCOOL EM SP

O QUE MUDA
Fechando o cerco ao comércio de bebidas alcoólicas para menores de idade, Estado de São Paulo passa a ter legislação própria

FISCALIZAÇÃO
Fiscalização passa a ser feita por fiscais da lei antifumo (técnicos do Procon e da Vigilância Sanitária)

DENTRO DO BAR
Não só a venda, mas o consumo dentro do estabelecimento também será punido

PUNIÇÃO
Estabelecimento pode ser fechado 




Pesquisa da UnB mostra que entrevistados acreditam ser imunes à propaganda para crianças

Levantamento também analisou comerciais -um deles mostrava criança sendo excluída por não ter brinquedo 

LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA

Pais e mães acreditam que seus filhos são menos influenciados por publicidade infantil do que os filhos de amigos e conhecidos. É o que mostra uma pesquisa inédita feita entre fevereiro e março por pesquisadores da Universidade de Brasília. O levantamento traz informações sobre quase 700 pais e mães, em 19 capitais e no DF.
Eles tiveram de responder à seguinte pergunta: "Quanto a publicidade influencia no que o seu filho consome?". Numa escala que vai da nota 1 (não influencia) até a nota 10 (influencia totalmente), os pais deram notas entre 5 e 6 para seus filhos, em média.
Quando a pergunta se referiu aos filhos de amigos, atribuíram pontuação entre 7 e 8. Considerando as crianças em geral, entre 8 e 9. A pesquisa foi feita como trabalho de conclusão de curso pelo psicólogo Lucas Caldas, que teve bolsa da Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância).
Para o coordenador da pesquisa e professor do departamento de psicologia da UnB, Fabio Iglesias, o dado preocupa. "Quanto mais um indivíduo se considera imune, mais risco ele pode estar correndo."
Ele diz que há evidências do chamado efeito da terceira pessoa. "É quando o indivíduo acha que os outros são influenciados, enquanto ele se considera mais crítico."
A empresária Fabiola Lacerda Abdala, 30, conta que tenta reduzir o tempo que Luísa, 5, fica na frente da TV. "Quando ela vê mais TV, acaba pedindo mais brinquedos."
O pai de Luísa, Ricardo Abdala, discorda. "Ela não liga tanto para as propagandas como outras crianças", diz. A pesquisa também analisou comerciais do programa TV Globinho, da Rede Globo, durante 15 dias antes do Dia das Crianças em 2010. A análise mostrou que 73% recorriam ao "consenso social" -ao mostrar crianças com um produto, cria-se a impressão de que todos já o têm.
Iglesias diz que só uma peça apelou para a tática do medo -mostra criança que não tem o produto sendo excluída. Nos últimos meses, o Congresso discute o projeto que objetiva proibir a publicidade infantil. Defensores da medida alegam que a propaganda estimula o consumismo; quem é contra, que já há controle.



Adultos devem apontar exageros, diz psicóloga

DE BRASÍLIA

A doutora em psicologia Fátima Niemeyer da Rocha, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia, afirma que os pais devem ter maior acompanhamento sobre os que os filhos veem na televisão, inclusive a publicidade infantil.


Folha - Qual a influência da publicidade nas crianças?
Fátima Niemeyer da Rocha -
 A propaganda atinge todas as crianças. Evidentemente que as crianças mais expostas à publicidade infantil são influenciadas de forma mais intensa. O problema se dá quando não se exerce nenhum tipo de crítica em relação ao conteúdo exibido pela TV. Por isso, é importante o acompanhamento dos pais. O adulto está mais apto a exercer essa crítica.

O que os pais devem fazer, nesse sentido?
Na medida do possível, os pais devem assistir à TV junto das crianças e apontar possíveis exageros nas propagandas, com comentários como: "Isso não é bem assim". Os pais precisam conversar com seus filhos sobre isso, mesmo que eles tenham apenas três ou quatro anos.
É necessário falar francamente com a criança sobre até onde a família pode atender seus desejos: se há condições financeiras para comprar ou não um determinado produto, por exemplo. Ainda que os pais tenham o poder de dar para a criança todos os brinquedos que ela quiser, isso não é apropriado.

Há aspectos positivos na publicidade infantil?
A propaganda tem um lado negativo e um lado positivo. A propaganda não é ruim em si, pode despertar a questão da comparação entre os produtos, o que cada produto oferece de diferencial. A publicidade pode inclusive ser informativa e ajudar a esclarecer pontos que a pessoa dificilmente saberia na gôndola do mercado. (LG) 




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