Já rodou bastante entre o pessoal da área, esse excelente artigo do Dr. Drauzio Varella sobre o tabaco.
Achei importante também disponibilizar aqui
no blog.
Vai com a ilustração original do Líbero.
Saiu na Folha de São Paulo no dia 19 de novembro.
Adquiri a convicção de que a nicotina causa a mais devastadora das dependências químicas
O cigarro é o mais abjeto dos crimes já
cometidos pelo capitalismo internacional. Você acha que exagero, leitor?
Compare-o com outros grandes
delitos capitalistas; a escravidão, por exemplo: quantos viveram como escravos?
E quantas crianças, mulheres
e homens foram escravizados pela dependência de nicotina desde que essa praga
se espalhou pelo mundo, a partir do início do século 20?
O primeiro crime foi
perpetrado contra algumas centenas de milhares de pessoas; o segundo contra
mais de 1 bilhão.
Na história da humanidade,
jamais o interesse financeiro de meia dúzia de grupos multinacionais disseminou
tantas mortes pelos cinco continentes: 5 milhões por ano -200 mil das quais no
Brasil.
Faço essas reflexões por
causa de uma série que estamos levando ao ar no Fantástico, da TV Globo, com o
objetivo de dar força aos que pretendem parar de fumar.
Para escolher os personagens,
pedimos aos espectadores que nos enviassem vídeos explicando por que razões
pediam ajuda para livrar-se do cigarro.
As cenas são dramáticas.
Mulheres e homens de todas as idades que se confessam pusilânimes diante do
vício, incapazes de resistir às crises de abstinência que se repetem a cada
vinte minutos.
Mães e pais cheios de
remorsos por continuar fumando apesar do apelo dos filhos; avós que se
envergonham do exemplo deixado para os netos; doentes graves que definham a
caminho da morte sem conseguir abandonar o agente causador de seus males.
Em 22 anos nas cadeias,
adquiri a convicção de que a nicotina causa a mais devastadora das dependências
químicas. Largar da maconha, da cocaína e até do crack é muito mais fácil:
basta afastar o dependente da droga, da companhia dos usuários e dos locais de
consumo.
Em contrapartida, a vontade
de fumar é onipresente; mesmo sozinho, num quarto escuro, o corpo abstinente
suplica por uma dose de nicotina.
No antigo Carandiru, vi
destrancar a porta de uma solitária, na qual um homem havia cumprido trinta
dias de castigo. Com as mãos a proteger os olhos ofuscados pela luz repentina,
dirigiu-se ao carcereiro que acabava de libertá-lo: "me dá um cigarro pelo
amor de Deus".
Cerca de 75% dos fumantes se
tornam dependentes antes dos 18 anos; muitos o fazem aos 12 ou 13, e até antes.
Somente 5% começam a fumar depois dos 25. Por esse motivo, a Organização
Mundial da Saúde classifica o tabagismo no grupo das doenças pediátricas.
Conhecedores das estatísticas, os fabricantes fazem de tudo para aliciar as
crianças. Quando tinham acesso irrestrito ao rádio e à TV, associavam o cigarro
à liberdade, ao charme, ao sucesso profissional e à rebeldia da adolescência.
Hoje, espalham pontos de
vendas junto às escolas, com os maços coloridos expostos ao lado de balas e
chocolates nas padarias e das revistas infantis nas bancas de jornal.
Por que razão brigam tanto
para patrocinar shows de rock e corridas de Fórmula 1? Seria simplesmente para
aprimorar o gosto musical e incentivar práticas esportivas entre os jovens?
Que motivos teriam para
opor-se visceralmente à Anvisa, quando pretende proibi-los de acrescentar
substâncias químicas que conferem ao cigarro sabores de chocolate, maçã, menta
ou cereja?
Existiria outra explicação
que não a de torná-lo menos repulsivo ao paladar infantil?
Qualquer tentativa de conter
a epidemia de fumo através da legislação é combatida com as estratégias mais
covardes por lobistas, deputados e senadores a serviço da indústria. Na
contramão do que deseja a sociedade, pressionam até contra a lei que proíbe
fumar em bares e restaurantes.
O que esses senhores ganham
com essa conduta criminosa? Estariam apenas interessados no destino das 180 mil
famílias que trabalham nas plantações ou nas doações dos fabricantes?
Nós temos o dever de impedir
o crime continuado que a indústria do fumo pratica impunemente contra as
crianças brasileiras. Fumar não pode ser encarado como um simples hábito
adquirido na puberdade. Hábito é escovar os dentes antes de dormir ou colocar a
carteira no mesmo bolso.
O cigarro deve ser tratado
como o que de fato é: um dispositivo para administrar nicotina, a droga que
provoca a mais torturante das dependências químicas conhecidas pelo homem.
Comentários
Acredito que o melhor a fazer é procurar um médico de confiança e solicitar informações sobre tratamentos para deixar de furmar. Psicólogos também podem ajudar. Hoje você têm várias alternativas. Por enquanto, você pode procurar mais informações aqui: http://actbr.org.br/tabagismo/tratamento.asp
http://actbr.org.br/tabagismo/tratamento-locais.asp