O consumo de drogas legais e ilegais no Brasil

A notícia abaixo saiu no jornal “O Estado de São Paulo” do último 5 de fevereiro.

legais e ilegais

Consumo de drogas legais e ilegais mata 8 mil pessoas por ano no País

Levantamento em sistema do Datasus mostra que álcool, fumo, psicotrópicos e cocaína tiraram a vida de 40 mil brasileiros entre os anos de 2006 e 2010

04 de fevereiro de 2012 | 16h 41

O uso de drogas matou 40.692 pessoas no País entre 2006 e 2010, uma média de 8 mil óbitos por ano. Estudo sobre mortes por drogas legais ou ilegais, registradas no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, mostra que o álcool é o campeão na mortandade.

O levantamento feito na base de dados do Datasus, obtido pelo Estado, informa que a bebida tirou a vida de 34.573 pessoas – 84,9% dos casos informados por médicos em formulários que avisam o governo federal sobre a causa da morte nesse grupo da população. Em segundo lugar aparece o fumo, com 4.625 mortos (11,3%). A cocaína matou pelo menos 354 pessoas no período.

Feita pelo Observatório do Crack, da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a pesquisa aponta que, na comparação por gênero, há mais registros de morte de homens por álcool e fumo. Em cinco anos, 31.118 homens perderam a vida por causa da bebida. Outros 3.250 morreram em casos associados diretamente ao cigarro.

Na comparação da devastação por Estado, os mineiros lideram as mortes por álcool, com 0,82 morte para cada 100 mil habitantes, seguidos pelos cearenses, com 0,77 morte/100 mil pessoas. Depois aparecem os sergipanos, com 0,73/100 mil. São Paulo registra 0,53 morte para cada 100 mil habitantes.

O levantamento da CNM revela que em São Paulo houve 1.120 vítimas do uso abusivo do álcool em 2006. Em 2010, porém, o sistema registra uma queda de 14% nas informações. O SIM alcança 979 pessoas mortas por consumo de bebida. O Estado que menos apresenta perda de vidas por álcool é o Amapá: quatro em 2006, dez em 2009 e cinco em 2010.

Quando a causa do óbito é o fumo, o campeão de mortes de usuários é o Rio Grande do Sul. A taxa de óbitos pelo tabaco chega a 0,36 para cada 100 mil. A seguir aparecem Piauí e Rio Grande do Norte, ambos com 0,33/100 mil.

A duas principais drogas legalizadas no País, álcool e fumo, juntas, segundo o estudo, mataram 39.198 pessoas em cinco anos. – ou 96,2% do total. Os técnicos da CNM alertam, no entanto, que os dados de 2010 ainda são preliminares.

A devastação pode ser maior. O preenchimento das fichas para informação não é simples e o sistema tem casos de mortes classificadas como óbito por substâncias psicoativas (480). São os casos nos quais é informado no formulário um código que junta mais de uma droga associada à morte.

A Declaração de Óbito (DO) é composta por 9 blocos e 62 variáveis que apontam causa e local da morte. O preenchimento é de responsabilidade do médico, conforme estabelecido pelos Conselhos Federal e Estadual de Medicina, diz o estudo.

Para o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, há uma urgente necessidade de combater o problema das drogas nos municípios. “E não se está fazendo isso. O problema estoura é nos municípios”, afirma.

Ziulkoski diz que a média de cerca de 8 mil óbitos, encontrada no SIM, é um número subestimado. “Não há uma cultura de informação dos médicos”, acrescenta. Para ele, “o País precisa ver que a política de prevenção do uso de drogas é precária”. O estudo abrange 2 mil municípios. “A situação é alarmante.”

Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Mauro Aranha, o problema é bem maior. “Há aí uma clara subnotificação das mortes”, afirma. Segundo ele, o governo precisa melhorar a logística nos municípios para que os médicos possam informar os dados reais. “Isso é fundamental para que se possa trabalhar políticas públicas sobre drogas”, defende Aranha.

Pesquisando nas bases de dados do Datasus, técnicos do CNM elaboraram também uma lista com os 50 municípios com maiores taxas de mortalidade por drogas. No caso da mapa das mortes por álcool, Minas Gerais tem 23 municípios, Paraná, 9, e São Paulo, 5.

Quando a conta do dano causado pelo cigarro é feita na lista de 50 municípios, o Rio Grande do Sul se destaca com 17, seguido de Minas, com 7, e Santa Catarina com 6. São Paulo tem 2 municípios na lista dos 50 com maior incidência de mortes por fumo.

Em nota, o Ministério da Saúde explica que os números de 2010, divulgados pelo estudo, podem sofrer ajustes. De acordo com a nota, entre 2006 e 2009 foram notificados 31.951 óbitos com causa básica de consumo de álcool, fumo e substâncias psicoativas (como cocaína canabinoides e alucinógenos). Os dados do SIM são fornecidos pelas secretarias estaduais e municipais de Saúde e gerenciados pelo ministério.

Os óbitos de 2011 só serão conhecidos no final do ano. “O Ministério da Saúde vem desenvolvendo um conjunto de ações para aperfeiçoar o registro de óbitos no País, assim como a qualidade das informações. Uma das medidas foi a intensificação de registros de óbitos por causas mal definidas (parada cardíaca, por exemplo), que caiu de 15% (2004) para 7,8% (2011)”, diz a nota. Outra medida adotada foi a criação, em 2006, da rede nacional do Sistema de Verificação de Óbitos, utilizado para a identificação das causas de mortes naturais. “Com isso”, argumenta o governo, “houve ampliação da notificação no País, por meio do SIM. O sistema capta atualmente 94% dos óbitos ocorridos no território nacional. Esse porcentual está acima do padrão internacional (90%)”.

 

Famílias lamentam mortes por fumo

Rio Grande do Sul é o Estado com maior número de mortes entre fumantes no Brasil

04 de fevereiro de 2012 | 23h 58

Wagner Machado, especial para O Estado de S. Paulo

Aos 20 anos, Caroline Vanzella nunca experimentou cigarro e, se pudesse, faria com que todos familiares e amigos fossem imunes ao vício em tabaco. A jovem perdeu o avô, Francisco Vanzella Neto, de 81 anos, em decorrência de câncer na garganta, pulmão e enfisema pulmonar.

A tristeza da família de Guaíba, região metropolitana de Porto Alegre, soma-se a tantas outras que fazem parte da estatística que aponta o Rio Grande do Sul como o Estado com maior número de mortes entre fumantes no Brasil: 11%.

Junto com a mãe, Eloá, de 42 anos, ex-fumante, elas não recordam a primeira vez que viram Neto com um cigarro. "Ele acabava um e já fumava outro. Por dia, consumia pelo menos três maços. Por orientação médica, varias vezes tentou diminuir, mas não adiantou", relata Caroline. "Desde criança, meus outros dois irmãos e eu pedíamos para minha mãe parar de fumar. Após 25 anos, ela conseguiu e meu avô ficou tão contente que lembro exatamente o que disse: ‘Que bom que parou, porque o cigarro não me trouxe benefício’.".

A consciência tardia não foi suficiente para salvar Neto. Com dores no tórax e incômodo na garganta, em 2011 perdeu a voz e a capacidade de ingerir alimentos. Os médicos optaram por não operá-lo, pois o câncer já havia se espalhado.

Neto teve 15 filhos e muitos ainda fumam. Mas agora a família levanta a bandeira contra o tabaco. "O cigarro tira bem mais do que o olfato e o paladar: deixa marcas em todos", diz Caroline.

Morte sofrida. Após cinco meses internado, José Júlio da Silveira morreu aos 58 anos. A causa foi um câncer no pulmão, fruto de quatro décadas de fumo. Sua mulher, Olga Dornelles, diz que o marido, nos últimos meses de vida, em 2009, mal conseguia respirar. "O câncer se alastrou por todo o corpo", conta ela, moradora de Porto Alegre.

Avisos sobre os malefícios do tabaco não faltaram, mas Silveira fumava constantemente. "Ele argumentava que todos morreriam um dia. Graça a Deus, nossos dois filhos nunca fumaram."

Se no passado o fumo era sinal de status e emancipação, hoje é sinônimo de danos à saúde. Para a companheira de Silveira, quem convive com fumantes sofre junto com a pessoa, nem sempre de forma passiva, mas com tristeza, "Perder entes queridos para o cigarro é doloroso e dá um sensação de impotência", descreve.

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