Paulistana com instrução bebe mais,
aponta pesquisa
Já homens apresentam oito vezes mais riscos com baixo grau de instrução
O consumo de bebidas alcoólicas está
diretamente relacionado ao grau de instrução das mulheres paulistanas: quanto
maior o tempo de estudo, maiores os riscos de beberem mais e sofrerem,
consequentemente, com problemas ligados à bebida. Essa é a conclusão de um
estudo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq - HC),
publicado na edição deste mês da revista científica Clinics.
"Há
quinze anos, a proporção era de sete homens que bebiam para cada mulher. Hoje,
temos 1,2 homem para cada mulher que consome bebidas alcoólicas", constata
a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, uma das autoras da pesquisa. No caso
das mulheres com grau de instrução maior e melhores condições econômicas, a
situação pode ser ainda mais complexa. "Elas têm de dar conta de mais de
um papel. São mães, esposas e profissionais. Sofrem uma cobrança social muito
grande".
Já
entre o sexo masculino, a escolaridade é um fator de proteção. Homens com baixo
grau de instrução apresentam oito vezes mais riscos para o alcoolismo. "A relação
entre escolaridade e consumo de álcool reflete uma mudança cultural", diz
o conselheiro da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas
(Abead), Carlos Salgado.
Considerada
um indicador socioeconômico, a educação é um sinônimo de independência
feminina, tanto emocional quanto financeira. "Mulheres com grau de
escolaridade maior são mais independentes e estão mais expostas", explica
a pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas
Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), Ilana Pinsky. Para Salgado, o
álcool acaba sendo utilizado com uma válvula de escape feminino contra o
estresse.
Beber nos
finais de semana também causa dependência
Comportamento
tem sido observado principalmente entre os jovens
O famoso happy hour com os colegas de trabalho, a comemoração
do aniversário de um amigo ou mesmo uma festa em família são ocasiões perfeitas
para um brinde aos finais de semana. Assim, um drink leva ao outro, a
quantidade de bebida é maior a cada copo e, em muitos casos, a embriaguez é a
conseqüência mais comum. O que muitos não sabem é que essa conduta pode ser tão
ou mais perigosa à saúde se comparada à ingestão alcoólica diária.
O cérebro é um dos
órgãos mais afetados, visto que o consumo em excesso, especialmente de bebidas
destiladas, provoca lesões agudas na região, o famoso "blackout",
além de funcionar como agente precursor de futuros danos à memória, segundo o
Dr. Carlos Salgado, psiquiatra, especialista em dependência química pela
Unifesp e conselheiro da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras
Drogas, Abead. "O popular "esquenta" antes de uma balada, por
exemplo, tem marcado o estilo de beber dos jovens, não apenas no Brasil".
Esse panorama gera
também uma maior incidência nos casos de relações sexuais sem o uso do
preservativo, via de disseminação das Doenças Sexualmente Transmissíveis,
DST´s, gravidez indesejada, acidentes automobilísticos, além da contribuição
para as ocorrências de violência, alteração de humor e atitudes impulsivas. Beber
uma grande quantidade apenas aos finais de semana implica também em
complicações não somente no cérebro, mas em diversas partes do corpo, em
especial no trato digestivo e no sistema nervoso periférico.
O administrador Vitor
Grisius, 24 anos, é um exemplo do típico confraternizador dos finais de semana.
O jovem explica que se sente mais relaxado e aquela cervejinha na sexta-feira,
por exemplo, indica a chegada dos dias de folga. "O estresse que eu passo
no meu trabalho é aliviado quando eu faço happy hour com os colegas. A tensão
desaparece e fico despreocupado. É como se fosse uma pausa dos problemas",
diz. Contudo, segundo o psicólogo, é aí que mora o perigo. "Mesmo que o
sujeito beba apenas em um dia, a quantidade pode ser alta e esse episódio
denota uma intoxicação em menor tempo, resultando em um quadro de dependência
mais rápido", revela.
Tabaco e álcool
Durante os momentos de
laser, muitos fazem uso do álcool associado ao tabaco e, em grande parte desses
casos, a junção dessas substâncias é a porta de entrada para o consumo de
drogas ilícitas como a maconha. O convidado da semana do programa Saúde em
Pauta Online, Dr. Wagner Abril Souto, psicólogo e coordenador do Centro de
Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas, Cratod, explica que a dependência
alcoólica ocorre quando o indivíduo já é adulto, mas o jovem que excede o
consumo é chamado de abusador e este morre muito cedo e lidera as estatísticas
de acidentes, por exemplo. "Em uma balada, a ingestão de seis drinks já
torna o sujeito um abusador", alerta.
Alerta para os pais
A família, muitas
vezes, não sabe como proceder nessas situações. O ideal é o que os pais
conversem com os filhos, orientando-os e explicando que, da mesma forma que
alguns jovens bebem abusivamente, outros não fazem uso dessas substâncias e é
esse argumento que pode salvar os adolescentes de tornar-se um futuro
alcoólatra. O Dr. Carlos Salgado dá algumas dicas que podem minimizar os riscos
do excesso.
- ·
Nunca beba antes dos
18 anos,
- ·
Se beber, não o faça
sem comer,
- ·
Intercale o álcool com
refrigerante ou água,
- · Se existe um caso de dependência na família, não dê início ao hábito; existem grandes chances de você também tornar-se alcoólatra.
ABEAD
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