No dia 24 de setembro, o UOL trouxe a notícia abaixo.
Já publiquei outras informações sobre a maconha sintética também conhecida como "spice" e "K2".
Clique nos links abaixo para ler.
Maconha Sintética - MTF 2011
Droga "legal" que imita maconha é vendida livremente em Israel
Estados
Unidos tentam fechar cerco contra maconha artificial
Ingrid
Tavares
Do
UOL, em São Paulo
24/09/2012
Os Estados Unidos entram em uma nova
fase na luta contra as drogas nesta semana. Após uma investigação que buscou
provas em todo o país desde o Ano-Novo de 2012, as autoridades devem indiciar
três pessoas pela produção e distribuição de maconha artificial.
“O spice [gíria em inglês para
maconha artificial] é bem popular tanto nos Estados Unidos quanto no Reino
Unido há alguns anos. O relatório de drogas da ONU, que é feito por um
escritório bem formal e distante das ruas, começou a dar destaque para ele no fim
da década passada, em 2009, mas é um fenômeno dos anos 2000”, explica o
jornalista Tarso Araujo, autor do Almanaque das Drogas, da editora Leya.
Para driblar a legislação dos EUA, a
droga extraída da planta Cannabis passou a ser também fabricada em laboratórios
caseiros com um processo químico lucrativo e, até então, legalizado. A maconha
artificial é uma mistura feita de ervas, incenso, grama, acetona e canabinoides
sintéticos importados da China e da Índia.
Mas agora, Dylan Harrison, John
Shealy e Michael Bryant, sócios da empresa Mr. Nice Guy, podem ficar até 30
anos atrás das grades por comercializar mais de cem pacotes com ervas
medicinais “turbinadas” com elementos químicos por semana.
Brecha
Identificados por siglas
alfa-numericas, esses químicos eram permitidos, pois imitavam os efeitos da
droga sem trazer na sua composição o THC (tetrahidrocanabinol) ou outras
substâncias psico-ativas proibidas da maconha. Quando a Justiça descobria qual
o canabinoide sintético comercializado, os fabricantes mudavam a fórmula e
vendiam uma nova droga no lote seguinte, mantendo-se sempre à frente da lei.
“Esses elementos são perigosos porque
são mais potentes do que os canabinoides ‘naturais’ da maconha. Estudos apontam
que eles se encaixam com mais intensidade nos receptores de canabinoides que
existem em várias partes do nosso organismo – do hipocampo ao sistema gástrico,
que regula nosso apetite”, afirma Araujo.
A maconha tem uma sigla menos
conhecida, o CBD, mas que faz um importante contraponto no cérebro das pessoas
aos males provocados pelos canabinoides. “O canabidiol [CBD] é outro componente
da planta da maconha, mas que não traz esses efeitos nocivos, como ataques de
ansiedade e esquizofrenia provocados pelo THC”, explica o neuropsicólogo Paulo
Jannuzzi Cunha, pesquisador do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das
Clínicas. “Ele mimetiza o efeito de relaxamento, por exemplo, mas não chega a
trazer o efeito mais danoso no cérebro que o THC carrega e que causa o ‘barato’
maior.”
A ausência do CBD na substância de
laboratório pode explicar o porquê de a droga ser mais nociva (e preocupante)
do que a “original”. Relatos médicos indicam que os usuários da maconha
artificial apresentaram sérios transtornos psiquiátricos quando não ficavam
catatônicos.
“Essas drogas têm dois aspectos que
facilitam o uso e atraem os jovens para o consumo: o acesso fácil e também o
fator de risco desconhecido, que se encaixa no perfil do jovem, que não se
importa com as consequências”, lembra Cunha, especializado em dependentes químicos.
O imbróglio
A Justiça começou a combater o uso
descontrolado da maconha sintética há dois anos, quando um ato proibiu o uso de
cinco substâncias bastante populares, entre elas JWH-018, AM-2201 e HU-210, e,
principalmente, seus análogos.
Mas os advogados dos três empresários
de Miami alegam que eles comercializavam um composto bem diferente, fato que os
protegeu até julho. Mas há dois meses, o presidente Barack Obama baniu todos os
tipos de canabinoides artificiais, enquadrando o grupo de vez.
“UR-144 é um dos componentes
estruturalmente diferente das substâncias banidas e muito difícil de ser
enquadrado na lei dos análogos. Basicamente, eles mudaram uma molécula e a
substituíram por um novo grupo químico. O produto com UR-144 não vai causar
euforia, alterar a percepção nem mexer nas habilidades motoras, e isso não é
uma mudança pequena”, alegam Thomas Wright e Spencer Siegel à imprensa
norte-americana.
O escritório da dupla ficou
especializada em prestar assessoria jurídica, ao custo mensal de US$ 3.500, a
vários fabricantes e distribuidores de drogas sintéticas no país. O caso da
empresa Mr. Nice Guy é um emblema contra a fragilidade do sistema jurídico que,
segundo a dupla, não está preparado para entender a questão das drogas
sintéticas.
“Além da proibição de novas drogas
sintéticas não ter efeito prático, ela dá condições para o mercado negro. O
movimento de proibir essas drogas gera substâncias em que o controle de
qualidade é muito baixo e que não têm testes clínicos. É um tiro no pé, na minha
opinião”, conclui o autor do Almanaque das Drogas.
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