Outro bom artigo do Dr. Drauzio
Varella publicado na Folha de São Paulo no último dia 9 de março.
A foto é da campanha do CNCT (Comité National Contre le Tabagisme - France) |
Para
quem gosta de morrer mais cedo, o cigarro é arma de eficácia incomparável. Ele
reduz de tal forma a duração da vida que nenhuma medida isolada de saúde
pública tem tanto impacto na redução da mortalidade quanto parar de fumar.
Acaba
de ser publicado o levantamento mais completo sobre os índices de mortalidade
em fumantes e ex-fumantes. Os dados foram colhidos entre 113.752 mulheres e
88.496 homens, de 25 a 79 anos de idade, acompanhados durante 7 anos.Em média, os fumantes consumiam mais álcool, tinham nível educacional mais baixo e índice de massa corpórea menor do que o dos ex-fumantes e daqueles que nunca fumaram.
Cerca de 2/3 dos que foram ou ainda são fumantes adquiriram a dependência antes dos 20 anos, dado que explica o esforço criminoso da publicidade dirigida para viciar crianças e adolescentes.
As curvas de mortalidade
revelaram que:
2 - Comparado com
os que nunca fumaram, o risco de morte de um fumante é três vezes maior.
Mulheres correm riscos iguais aos dos homens, confirmando o adágio
"mulher que fuma como homem, morre como homem".
"mulher que fuma como homem, morre como homem".
3 - Uma pessoa
que nunca fumou tem duas vezes mais chance de chegar aos 80 anos. Na mulher de
hoje, a probabilidade de sobreviver até essa idade é de 70%, número que cai
para 38% nas fumantes. Nos homens esses valores são de 61% e 26%,
respectivamente.
4 - A diferença
de sobrevida é explicada pela incidência mais alta de câncer, doenças
cardiovasculares, doenças pulmonares obstrutivo-crônicas (como o enfisema) e
outras enfermidades provocadas pelo fumo. As causas de morte mais frequentes
são câncer de pulmão, infarto do miocárdio e derrame cerebral.
5 - Na faixa de
25 a 79 anos de idade, cerca de 60% de todas as mortes são causadas pelo
cigarro.
6 - O risco de
desenvolver doenças pulmonares obstrutivo-crônicas nas mulheres que fumam é 22
vezes mais alto; nos homens é 25 vezes maior.
Foi analisado também o impacto
de parar de fumar na redução da mortalidade.
1 - Quanto mais
cedo alguém deixa de fumar, mais tempo vive.
2 - As curvas de
sobrevida dos que se livraram do cigarro entre os 25 e os 34 anos de idade são
praticamente idênticas às dos que jamais fumaram. Parar nessa faixa etária faz
ganhar pelo menos 10 anos de vida.
3 - As curvas dos
que pararam dos 35 aos 44 anos são um pouco mais desfavoráveis. Ainda assim,
largar de fumar nessa fase permite viver nove anos mais.
4 - Comparados
com os que nunca fumaram, ex-fumantes que pararam ao redor dos 39 anos ainda
apresentam mortalidade 20% mais alta. Embora significante, esse número é
pequeno em relação ao risco 200% maior que correriam se continuassem fumando.
5 - Parar de
fumar dos 45 aos 54 anos reduz 2/3 da mortalidade geral e faz ganhar em média
seis anos de vida. Os que o fazem entre 55 e 64 anos vivem em média quatro anos
mais.
6 - O câncer de
pulmão está associado ao maior risco de morte entre os ex-fumantes.
O
fato de nas últimas décadas os fumantes terem aderido em massa aos assim
chamados cigarros de baixos teores não alterou em nada a mortalidade.
No
caso das doenças pulmonares obstrutivas, que evoluem com falta de ar
progressiva, foi até pior: a incidência mais do que duplicou desde a década de
1980.A explicação se deve às mudanças que a indústria introduziu na produção de cigarros: o uso de variedades de fumo geneticamente selecionadas para reduzir o pH da fumaça, o emprego de papel mais poroso e filtros com mais perfurações, tornaram menos aversivas, mais profundas e prolongadas as inalações, expondo aos efeitos tóxicos grandes extensões do tecido pulmonar.
Como o cigarro perde espaço no mundo industrializado, e em países como o Brasil, as multinacionais têm agido com agressividade nos mercados asiáticos e africanos, valendo-se da falta de instrução das populações mais pobres e da legislação frouxa que permite a publicidade predatória.
Os epidemiologistas estimam que essa estratégia macabra fará o número de mortes causadas pelo cigarro --que foi de 100 milhões no século 20-- saltar para 1 bilhão no século atual.
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